Análise: Reajuste da Petrobras nos preços de gasolina e diesel é recado para investidores

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Fonte: O Globo

Quarenta e oito horas. Este foi o intervalo entre o comunicado da Petrobras ao mercado na última segunda-feira de que não faria “um ajuste de forma imediata” nos preços dos combustíveis após o ataque a instalações petrolíferas na Arábia Saudita e o anúncio na noite de ontem de um aumento de 3,5% na gasolina e 4,2% no diesel a partir desta quinta-feira. Entre um evento e outro, tudo indica que pesou a necessidade de dar um recado a investidores de que a companhia define por conta própria sua política de preços.
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Esse “grito de independência” ajuda a desfazer o desconforto depois que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a estatal não iria elevar os preços. “Conversei agora há pouco com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e, como é algo atípico, ele não deve mexer no preço do combustível”, disse o presidente à TV Record na segunda-feira.
Na mesma noite, a petroleira divulgou comunicado, no qual afirmava que a reação súbita dos preços poderia ser atenuada na medida em que maiores esclarecimentos sobre o impacto na produção mundial se tornassem conhecidos e que, por isso, tinha decidido “acompanhar a variação do mercado nos próximos dias”.
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Depois da disparada de 14,6%, na segunda-feira, não ocorreram novos sinais de alerta nos preços. Ao contrário, a cotação do barril do tipo Brent, que serve de referência, recuou dois dias seguidos – embora a valorização do produto ainda não tenha sido integralmente compensada – e a Arábia Saudita procurou acalmar o mercado com a promessa de normalização rápida da produção.
Alto endividamento
O quadro de tensões geopolíticas está longe de ser resolvido. A Arábia Saudita já acusou formalmente o Irã de estar por trás dos ataques. Os Estados Unidos prometem endurecer as sanções contra Teerã.
Ainda assim, o pano de fundo do reajuste desta quarta-feira parece ter sido a necessidade de tranquilizar investidores, reforçando que interferências na gestão da companhia não são bem-vindas.
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No segundo trimestre, a Petrobras ainda tinha dívida bruta de US$ 101 bilhões, e o próprio presidente da estatal afirmou em mensagem aos investidores que o remédio para o alto endividamento é a venda de ativos.
Abertura dos mercados de refino e gás natural
Até o fim de julho, a Petrobras já tinha levantado US$ 15 bilhões com operações diversas, que vão desde a venda da rede de gasodutos nas regiões Norte e Nordeste (TAG) até a privatização da BR Distribuidora.
Dentro do plano da companhia de concentrar suas atenções na exploração e produção, principalmente do pré-sal, alguns dos maiores desafios ainda estão por vir. A Petrobras já firmou acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão regulador da concorrência no país, para abrir os mercados de refino e de gás natural.
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Não é mudança simples. A Petrobras responde por 98% do mercado de refino. Oito unidades foram postas à venda, numa lista que inclui a refinaria Abreu e Lima, marcada pela corrupção revelada na Lava-Jato. Ao todo, os ativos correspondem a 50% da capacidade de refino no país.
O acordo no mercado de gás – fechado depois que a empresa foi investigada pelo Cade por supostas condutas anticompetitivas – prevê a venda até o fim de 2021 não só da TAG como do Gasoduto Brasil-Bolívia, no qual a estatal tem fatia de 51%. Além disso, ela deve se desfazer de participações indiretas em distribuidoras de gás. O prazo pode ser prorrogado por mais um ano desde que a petroleira consiga justificar o atraso.
Na avaliação dos especialistas, para atrair os recursos do setor privado, a empresa terá de mostrar gestão independente, sem espaço para o disse me disse da interferência política.

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