No fim de julho, em uma operação de R$ 9,6 bilhões, a Petrobras realizou oferta secundária de ações que reduziu sua participação na BR Distribuidora de 71,25% para 37,5%. Com a transação, a Petrobras deixou de ser acionista majoritário, e o capital de rede de postos foi pulverizado entre investidores como o fundo de pensão Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, Opportunity e SPX.
Até o fim de 2017, a Petrobras detinha todas as ações da BR. Naquela ocasião, a estatal decidiu abrir o capital da rede de postos, levantando R$ 5 bilhões com a venda de 29% das ações.
Com a entrada no capital das investidores privados, os novos acionistas se organizaram para alterar a composição do conselho de administração da empresa, que até então era 100% indicado pela Petrobras. Um grupo de acionistas como as gestoras JGP, SPX, Opportunity, Verde, Atmos e alguns internacionais, além da Previ, promoveram uma rodada de conversas nos últimos dois meses para identificar seis dos nove membros do colegiado que seria formado.
O trabalho durou dois meses e cerca de 30 executivos foram entrevistados para os cargos. A relação de nomes havia sido fechada há três semanas.
– Os acionistas buscaram uma composição diversa, com conselheiros com passagem pela indústria de distribuição, varejo, pagamentos, tecnologia, governança e reestruturação. De maneira geral, foi um sucesso o processo – disse Márcio Correia, gestor dos fundos de ações da JGP, que atuou no processo de seleção de conselheiros.
Minoritários não conseguem emplacar presidente
Para presidir o conselho, o nome escolhido na assembleia desta quarta-feira foi o de Edy Luiz Kogut, indicado pela Petrobras. Engenheiro civil, Kogut é doutor em Economia pela Universidade de Chicago e fez carreira na iniciativa privada, tendo participado dos projetos de privatizações de Copesul (petroquímica), Light e Escelsa (distribuidoras de energia), de 1988 a 2004. Dos eleitos, Kogut é o únic que já compunha o colegiado.
A Petrobras também indicou Maria Carolina Lacerda (que atuou em bancos estrangeiros como UBS e Deutsche Bank) e Alexandre Firme Carneiro (que fez carreira na Shell).
Já os minoritários emplacaram: Carlos Piani, que vem da Kraft Heinz e já passou por PDG e Equatorial Energia; Cláudio Ely, que comandou a rede de farmácias Raia Drogasil; Leonel Andrade, que renunciou à presidência da empresa de milhas Smiles este ano; Mateus Bandeira, que chefiou a consultoria internacional Falconi; Pedro Ripper, ex-diretor da Oi e conselheiro da empresa de shoppings Iguatemi; e Ricardo Maia, que fez carreira como executivo na concorrente Ipiranga.
Pelo que O GLOBO apurou, os minoritários desejavam que Mateus Bandeira assumisse a presidência do conselho. Mas os investidores estrangeiros acabaram preferindo o nome de Kogut. A Petrobras se absteve de votar na assembleia. Não estão claras as razões que levaram à escolha, pelos estrangeiros, de Kogut. Mas parcela dos acionistas locais acabou não votando em Banderia, inviabilizando sua eleição para a presidência.
– No Brasil, a reunião de minoritários para eleger um conselho acontece pouco porque raras são as empresas realmente pulverizadas. E foi importante a Petrobras escolher gente de mercado, essa era uma dúvida que havia no começo do processo. Não haverá representante do governo nesse conselho – afirmou Pedro Sales, gestor da estratégia de ações da Verde Asset.
De acordo com o gestor, o caminho da empresa a partir de agora é reduzir a distância do seu desempenho operacional em relação a de rivais como Shell e Ipiranga.
– A BR tem marca, capilaridade e infraestrutura excelentes, mas sua rentabilidade está aquém da registrada pela concorrência. Não há razão para isso. O desafio vai ser eliminar essa diferença – acrescentou.
Segundo fontes que acompanham a empresa, a expectativa de acionistas é também que o conselho e a direção da BR consigam reduzir o quadro de funcionários e adequar a estrutura de salários ao desempenho.