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A Petrobras organizou na noite de terça-feira, 7, uma primeira rodada de conversas entre executivos de estaleiros nacionais e estrangeiros para viabilizar parcerias e aumentar a construção de partes dos navios-plataforma (FPSO) e outras embarcações inteiras no Brasil. A ideia é que essas empresas sigam se frequentando e organizem visitas técnicas que terminem em negócios efetivos no Brasil.
O encontro aconteceu em Houston, nos Estados Unidos, paralelamente à Conferência de Tecnologia Offshore (OTC, na sigla em inglês). Executivos da estatal, como o diretor de Engenharia, tecnologia e inovação, Carlos Travassos, apresentaram a demanda futura da Petrobras e ciceronearam representantes das empresas nacionais e estrangeiras de Coreia do Sul, Cingapura, China, Índia, Japão, Noruega e Emirados Árabes.
Do lado brasileiro, apurou o Estadão/Broadcast, estavam Andrade Gutierrez, Bravante, CBO, EBR, ECB, Ecovix, Enseada, EAS, Mauá, Edson Chouest, Mac Laren, Ocean Pact, OSX, Porto do Açu, São Jacinto e Triunfo. Entre os estrangeiros, estavam Samsung, CIMC Raffles, Saipem, Dubai Drydocks, Cosco, Shapoorji, SBM, Modec, BW Offshore, Yinson, CNOOC, Hanwha, Ocyan e Seatrium.
Ao todo, participaram do encontro 16 empresas nacionais e outras 14 estrangeiras. A iniciativa integra a segunda fase de um trabalho de mapeamento encabeçado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que encontrou 48 estaleiros no País, dos quais 15 estão desativados.
Por trás do movimento, está o que o presidente da estatal, Jean Paul Prates, define como necessidade de aumentar o “localization level” da indústria naval, mas que pode ser lido como incrementar o bom e velho conteúdo local.
“Essa é uma experiência inédita para a indústria brasileira em termos de localização, que é trazer para seu território atividades de serviço ou construção, montando ambiente saudável de investimento no Brasil. Não é coisa do passado, muitos países estão fazendo isso neste momento, como os países árabes e o extremo Oriente, que faz isso direto”, defendeu Prates a jornalistas.
“Se ficássemos dando murro em ponta de faca, no ‘nós aqui e eles lá’, não iríamos a lugar nenhum. Criamos uma metodologia com o IBP, que começou com um mapeamento dos estaleiros e a segunda coisa era a criação de uma oportunidade para provocar ‘matches’ entre estaleiros brasileiros e investidores de fora”, continuou.
Mercado cético
Investidores são céticos quanto ao aumento do conteúdo local no fornecimento da Petrobras porque temem aumento de custos. Eles têm aversão, por exemplo, aos porcentuais mínimos impostos pelo governo a contratos de óleo e gás.
Mas Prates argumenta que, para além de emprego, renda e tecnologia, tão perseguidos por governos desenvolvimentistas como os do PT, é necessário trazer a cadeia de fornecimento para perto da estatal por uma questão estratégica patente após a pandemia de covid-19 e, depois, guerra da Ucrânia, que levaram a um choque de oferta nas cadeias globais.
A Petrobras já divulgou ao mercado que vai lançar entre este ano e 2025 editais para contratação de 38 barcos de apoio offshore a serem construídos no País e que um plano para contratar cerca de 200 embarcações. O pacote vai demandar investimentos da ordem de US$ 2,5 bilhões até 2030.
No encontro, disse Travassos, foi apresentada não só essa demanda futura de barcos de apoio, que custam entre US$ 60 milhões e US$ 70 milhões cada, como também a demanda por módulos de plataformas.
Equilíbrio
Por isso, Travassos promete equilíbrio na empreitada de estimular a indústria brasileira que fornece para a Petrobras. Ele mesmo têm dito não haver necessidade de aumentar a exigência de conteúdo local em contratos e que, naturalmente, seu porcentual nos projetos navais vai variar entre 40% e 70%.
“Tem uma diferença com o que acontecia antes. Estamos tomando cuidado muito grande em apresentar de forma muito cuidadosa a demanda e percebo uma maturidade maior dos estaleiros brasileiros. No passado todo mundo se pautava (se fiava) na questão de conteúdo local. Hoje todo mundo tem consciência de que é preciso infraestrutura, desenvolvimento de mão de obra e demanda equilibrada para ter uma rampa de desenvolvimento”, disse o diretor.
Ele destacou, por exemplo, o fato de a Petrobras ser a maior demandante de tubos flexíveis do mundo, comprando 66% da produção mundial, e lembrou que a indústria brasileira está totalmente ocupada nessa frente.
“Isso mostra a relevância de ter as cadeias perto da gente. Não estamos falando em construir um FPSO (Unidade Flutuante de Armazenamento e Transferência) inteiro no Brasil. Nenhum país do mundo faz isso, mas quando a gente desenvolve a indústria, a gente traz essa indústria de peças navais para o nosso quintal. Essa é uma visão de negócios estratégica para a Petrobras”, concluiu.
Papel mais limitado
A iniciativa de trazer a produção de barcos e módulos para o Brasil lembra a política de parceiros tecnológicos lançada no segundo governo Lula, mas terá formato completamente diferente, com papel mais limitado da estatal, sugeriu seu diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Carlos Travassos.
Durante a OTC, Travassos disse a jornalistas que a Petrobras vai manter os atuais porcentuais de conteúdo local dos contratos e vai usá-los como ponto de partida para a atração das empresas estrangeiras com a comunicação clara de uma demanda “robusta e perene”, que ele define como a maior carteira de projetos de navios-plataformas do mundo. São 14 novas unidades a serem incorporadas até 2028, além de outros sete navios que estão em estudo para o período entre 2029 e 2032.
No passado, para participar das licitações, as empresas brasileiras eram obrigadas a ter um parceiro tecnológico estrangeiro como sócio para transferir tecnologia e levantar estaleiros do zero. Passados alguns anos, se multiplicaram os “divórcios” entre empresas forçadas a casar e casos de corrupção. Agora, nessa remontada do intercâmbio para reativar o setor, o formato da relação comercial é livre, desde que o projeto cumpra as exigências de conteúdo local.
“O movimento é completamente diferente da iniciativa feita no passado, quando havia parceria tecnológica e os estrangeiros trariam a tecnologia para os estaleiros brasileiros. Isso funciona bem para você desenvolver a infraestrutura. Naturalmente, o ressurgimento de uma indústria complexa, demandante de mão de obra e de capital, como é a indústria naval, pede muito mais do que isso. A recuperação da indústria passa por um processo de construir competitividade e por uma demanda perene”, diz Travassos.
“Apresentamos a demanda garantida da Petrobras e deixamos os estaleiros conversarem. A Petrobras tem uma demanda e vai fazer encomendas navais conforme a sua necessidade. Não cabe ir além nesse papel de indutora”, continuou.
Segundo o diretor, a iniciativa da Petrobras é a construção de uma estratégia de negócio, que reúne um portfólio “enorme”, desafios tecnológicos de projetos mais complexos, regras de conteúdo local, além de restrições de financiamento e estresse da cadeia de fornecedores a serem resolvidos. “A gente tem que achar caminhos para endereçar tudo isso”, afirma o diretor.
Travassos garantiu que a Petrobras não vai abrir mão do nível de conteúdo local, porcentual que varia de projeto para projeto, mas destacou que a complexidade dos reservatórios cresceu, obrigando a construção de FPSOs maiores.
“No passado, você falava de 50% de conteúdo local. Mas a gente tinha topsides (parte que vai acima do casco) de 17 mil toneladas no início dos anos 2000. Vamos imaginar que nós estivéssemos falando ali em 50% de conteúdo local. Agora um topside chega a 60 mil toneladas, que é o que a P84 e P85 têm cada uma. Então, se eu falar de 40%, 30% disso feito no País, eu estou falando de muito mais componentes (em números absolutos) do que no passado, aço a ser processado”, disse.
Ao passo que contribui com a atividade econômica, a atração de fornecedores para fabricar no Brasil em parceria atenderia a uma necessidade estratégica da Petrobras, que experimenta dificuldades para contratar equipamentos, por exemplo, para os projetos de Sergipe-Águas Profundas (dois FPSOs) e Albacora (um FPSO).

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